domingo, 17 de dezembro de 2023

Sangue e Pudins, de Luciano Alabarse, estreia em janeiro na capital

Violência explícita. Violência psicológica. Violência urbana. Violência disfarçada. Violência implícita. Violência. “Sangue e Pudins”, o novo espetáculo de Luciano Alabarse, estreia dia 16 de janeiro, às 20h30min, no Teatro Renascença (Av. Érico Veríssimo, 307 - Menino Deus). A montagem escrita pelo diretor gaúcho é uma adaptação dos textos originais de Mark Ravenhill (Shopping and Fucking) e Brontez Purnell (Johnny, você me amaria se o meu fosse maior?). A peça inglesa e o texto americano se cruzam, se esclarecem e dão lugar a um terceiro texto, sem negar suas influências, é original, fluente, ágil e ríspito. A curta temporada fica em cartaz até o dia 18 de janeiro, dentro do Porto Verão Alegre.


“Eu estava trabalhando no texto e, como sempre ouvindo muita música. Em um determinado momento, a voz de Simone me remeteu a uma canção que eu não ouvia há muitos anos, e que sempre me impactou pela contundência de sua letra. A canção era “Sangue e Pudins”, parceria de Fagner e Fausto Nilo. O resto veio naturalmente, inclusive o título da montagem”, afirma Luciano Alabarse (foto abaixo). “Sangue e Pudins” retrata, em cenas duras e impactantes, personagens de uma geração que entende o consumo e as transações da sociedade capitalista como única forma de interação possível. As pessoas e seus manuais de sobrevivência, o pragmatismo cínico de quem precisa sobreviver num mundo hostil, as relações contaminadas por interesses financeiros e sexuais, as histórias cruzadas de personagens perdidos, o jogo e a manipulação desesperada, as trapaças e os oportunismos de vidas desesperadas, a esperança esfacelada, mas presente, gritos e silêncios, omissões e oportunidades, os corações partidos, o consumismo desenfreado, dinheiro e a falta de amores e ciúmes, posses e possessividades, um mundo distópico e indiferente.

foto de Juliana Alabarse

“É uma peça cujo tema central é a violência, em todos os seus aspectos e formas, escancaradas ou sob disfarce, violência social e violência individual, com ou sem sangue, com ou sem “bullying”, com ou sem prévia manifestação. Uma peça sobre violência, uma encenação vigorosa e urgente. Um texto corrosivo. Um texto cruel. Um texto que dói”, reforça Alabarse, que assina, ainda, o cenário e a trilha sonora. O elenco reúne nomes conhecidos da cena gaúcha, como Ângela Spiazzi, Pingo Alabarce e Elison Couto, profissionais em ascensão no teatro gaúcho como Jaques Machado e Li Pereira, e novos atores como Vini Gomes e Vítor Stifft.

A HISTÓRIA
Logo no início da peça, Mark, Lulu e Robbie estão vivendo os últimos momentos de uma problemática vida de excessos. Um triângulo amoroso que está ruindo, como tudo ao redor dos personagens: a vida sempre no fio de arame, o equilíbrio instável, o grito engasgado na garganta. Mark mal consegue digerir a comida que os outros dois tentam lhe oferecer. Está só, se sente mal, quer mais. Vomita. O vício em heroína deixou seu corpo e sua mente debilitados, mas o que não lhe desce mais no estômago é tudo aquilo que lhe foi vendido como sonho e que, de uma hora para outra, se tornou pesadelo. Uma roda-gigante desgovernada, um mundo sem faixas de segurança. O mundo presente em ruínas espalhafatosas, um mundo que dispensa afetos, mas consolida transações impessoais entre os homens, agigantando angústias e necessidades.



O mundo de “Sangue e Pudins” é um grande supermercado onde tudo, inclusive pessoas, é vendido sem escrúpulos ou constrangimentos. Dois outros personagens cruzam a vida do triângulo central. Brian, um empresário inescrupuloso, e Gary, seu enteado – que é abusado sexualmente pelo padrasto, com violência. Insegurança, medo, transtorno, doenças e drogas marcam o cotidiano desses personagens à deriva de qualquer porto seguro.


A violência permeia o texto, marca suas digitais nas falas, arranha o presente, agiganta a ação da peça. Violência do início ao fim. Festas que duram dias, desfiles de moda glamorosos, programas de sexo e aplicativos de compra e venda de drogas e pessoas. O mundo de “Sangue e Pudins” é punk, mercadológico, estiloso, quente e frio. Tudo no entorno dos personagens impessoaliza as possíveis relações sentimentais. Os relacionamentos são efêmeros, calculados, por conveniência e cálculo. Vidas que gritam por ajuda, vidas sufocadas por uma sociedade industrial – que não facilita a trajetória de nenhum dos membros dessa história.

Em quatorze cenas e oito sub-cenas, o desespero, a impotência e o pragmatismo dos personagens aparecem e desaparecem, em uma espécie de parque de diversões sem alegrias. Quando começa o espetáculo, o público flagra o trio central morando em um apartamento quase vazio, sem recursos financeiros e com Mark abandonando o lugar em busca de uma clínica de tratamento antidrogas. Sua dependência de heroína o exclui do mundo dos afetos. Lulu e Robbie começam, sozinhos e abandonados, a buscar seu próprio caminho, seus recursos, a concretização de seus sonhos de sobreviventes. A trajetória de todos embaralha os planos do grupo, os cinco personagens se cruzam em cenas curtas, vorazes e impiedosas. Não há misericórdia ou empatia. Há apenas cálculo, pragmatismo e cenas dilacerantes. A linguagem é crua, o roteiro é sucinto.


SERVIÇO
O QUE: Espetáculo “Sangue e Pudins”
DATA: de 16 a 18 de janeiro
HORÁRIO: terça a quinta às 20h30min
LOCAL: Teatro Renascença (Av. Érico Veríssimo, 307 - Menino Deus)
INGRESSOS: www.portoverãoalegre.com.br


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