por adriano cescani
As salas de espera são ótimas para colocarmos a leitura em dia. Afinal, hora marcada é apenas uma formalidade. Ninguém nos atende no horário agendado. Mas, graças a um desses atrasos, pude descobrir um pensador com uma visão bem interessante sobre as relações humanas nos dias de hoje.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, de 84 anos, afirma que vivemos na chamada “sociedade líquida”, onde nada é para durar. Tudo é muito volátil, inclusive os relacionamentos amorosos. Na minha cachola já imaginei a hashtag TENSO! Pesquisei mais sobre esse ponto de vista tão contemporâneo e meus butiás caíram do bolso de tão verdade verdadeira.
Atualmente, não é mais preciso sair de casa para conhecer alguém. As diversas redes sociais e aplicativos de telefones são perfeitos para o xaveco entre homens e mulheres, mulheres e mulheres, homens e homens. Por trás da telinha do computador, do tablete ou do smartphone, as palavras, os gestos e as promessas de um novo amor são tão intensas quanto à velocidade das informações que chegam para nós, a cada segundo, diariamente, através da internet. Tudo é lindo e perfeito. Tudo é imediato!
Os solteiros sabem do que estou falando. Paixões vêm e vão todas as semanas. É a montanha russa dos sentimentos: estamos bem – em linha reta-, daí nos encantamos por alguém que “curte” ou nos dá “follow”, subimos ao topo da euforia, depois entristecemos com o “unfollow”, descemos velozmente para a “deprê”. É um sobe e desce de expectativas. Esse é o tal do “amor líquido”, segundo nosso amigo Bauman. Traduzindo: é um amor “até segundo aviso”. Aqui, vale amar enquanto esse amor trouxer satisfação. Depois disso, ele é substituído por outro que promete ainda mais benefícios. Puxado, hein?
Vocês, queridos leitores descompromissados, já devem ter sido vítimas de uma relação dessas, não é mesmo? Ou, quem sabe, já foram vilões de uma história romântica que começou pela internet. Eu mesmo já fui alvo algumas vezes. Talvez vilão. Bem mais vítima do que vilão. Tudo bem, não vem ao caso.
Mas, de fato, há quem sofra mais com esse golpe sentimental. O vovô pensador Zygmunt é sábio nesse assunto. Não sei se ele tem conta no twitter ou Facebook, mas entendeu que os contatos online possuem uma vantagem sobre os reais: são mais fáceis e menos arriscados.
Se as coisas não saíram como o esperado ou ficaram muito “quentes” ou “mornas”, os sedutores simplesmente se desconectam da relação, sem a necessidade do adeus, sem assumir que não rolou, sem explicações, sem uma palavra, sem nada! Simplesmente somem. O respeito para o próximo não existe. Como também não existe mais o tentar. Afinal, há tantas outras oportunidades por aí!
O que essa geração que vive o tal do amor líquido não se liga é que tudo na vida tem dois lados, o bom e o ruim. Fugir da responsabilidade, do diálogo e de uma relação adulta e civilizada é menos sofrido e mais prático, pelo menos no “agora”. Mas, certamente, essas pessoas têm muito mais a perder do que a ganhar. Perdem a chance de conviver, mesmo como amigo, com o outro. Deixam de aprender e a ensinar coisas. Mas, acredito, acima de tudo, que elas deixam de evoluir como seres humanos. Essa fatura, certamente, virá a longo prazo!
Então, meus amigos, muito cuidado com os lero-lero virtuais. Bora pra vida e se relacionar com quem está afim da realidade. Vamos pra balada, pros parques, pros bares, pro mundo de verdade. Que tal se propor conhecer o próximo na saúde e na doença, na alegria e na tristeza?
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