quinta-feira, 22 de outubro de 2015

o futuro no tempo dele


Que a vida anda corrida, todo mundo sabe. Agora, o que não dá para suportar, pelo menos falo por mim, é essa necessidade de levá-la a toque de caixa. Prefiro dizer – mesmo pensando o contrário à vezes – que AINDA estamos em outubro, e não JÁ em outubro, e que até o final do ano ainda há muita água para passar por debaixo da ponte.  No entanto, me deparo com horário de verão num mês com cara de “outono invernil”, com as já fadadas decorações de Natal nos shoppings e zunzunzun sobre Carnaval. Oi?  Mas escuta? Onde essa gente toda quer chegar tão rápido? Não podemos viver um dia de cada vez como se o amanhã não existisse?

Estou longe de ser um monge budista, com uma paciência invejável, só que procuro administrar a minha rotina dentro de uma ordem cronológica de tempo aceitável. Tento mesmo engolido, muitas vezes, pela pressa do dia-dia e pelo correr dos ponteiros do relógio. Não sei explicar o porquê do voar das horas. Mas que estão aceleradas, estão!  

Dias atrás tive de ir, por livre espancada vontade, ao banco em plena greve dos bancários. Apenas uma agência, em toda Porto Alegre, estava funcionando e foi para lá que fui. Fiquei uma hora sentado com uma senha na mão. Sério!? Mais de 30 pessoas na minha frente. Ao invés de esbravejar usei a cuca e pensei que todos que estavam ali, assim como eu, precisavam do serviço. Ora de tirar a paciência da cartola!

 Tempo perdido? Para uns sim, mas prefiro pensar que foram sessenta minutos para desacelerar a mente e o coração, organizar minha agenda, refletir sobre questões importantes para mim. Deu até tempo de apreciar a bela arquitetura da agência, com suas majestosas colunas em mármore, pé direito altíssimo, enfim, um prédio histórico. E um detalhe: por muitos anos meu pai trabalhou naquele ambiente. Aproveitei para imaginar por quantas vezes ele caminhou por ali, conversou com colegas e quantas vezes fui encontrá-lo para um almoço ou um quebra galho de filho para pai ou pai para filho. Minutos de pura nostalgia.  Você deve estar se perguntando: e atualizar as redes sociais pelo celular, não deu tempo? Deu, mas como o sinal não era dos melhores, preferi deixar de lado porque aquilo iria me irritar mais que a demora para chegar até um caixa e quebrar meu exercício de “mantenha-se calmo”.

Mas contei essa historinha para mostrar que estou procurando valorizar cada segundo do dia. Quando vejo um horário de verão quase no meio do ano, enfeites natalinos dois meses antes da data e zunzunzun carnavalesco (vamos combinar, tá longe, né?) eu me pergunto por que essa necessidade de se antecipar algo que vai chegar, de um jeito ou de outro? Vou ignorar o papinho do mundo capitalista em que precisamos consumir, consumir e consumir, que é fato, mas que não justifica essa angústia por alcançar o amanhã hoje. Ah! O horário de verão é para se economizar, mas não faz sentido ele começar em outubro e terminar no meio de fevereiro. Que tal começar em dezembro e terminar em março? #ficaadica.

No meio dessa precoce antecipação, não nos damos conta que ficamos velhos mais rapidamente, que perdemos pessoas mais rapidamente, que o presente vai embora mais rapidamente, que morremos mais rapidamente.  E o mais triste: estamos tão ocupados com o amanhã que deixamos de viver a felicidade de hoje, por menor que seja. É ilusão acharmos que a felicidade do futuro próximo é melhor que a deste momento. Tem gente que começa a segunda-feira esperando pela sexta. E quando a sexta chega, já quer o sábado pela manhã para dormir, não é mesmo? E assim por diante! Eita angústia.

O amanhã vai chegar no tempo dele. Eu e você, certamente, não podemos alterar o cronograma consumista de uma sociedade inteira, mas podemos, com certeza, ser donos do nosso tempo, do nosso roteiro de vida. Que as coisas venham no tempo delas e as sábias palavras do Dalai Lama prevaleçam:

- Os homens...porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer...e morrem como se nunca tivessem vivido.


Então, até a chegada o Noel e o ziriguidum carnavalesco, com o pôr do sol mais tarde, tenho muitos projetos para colocar em prática, muitas histórias para escrever, muita vida para ser vivida. Sem pressa. Simples assim.


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