As imagens que compõem “O Mundo da Nega Angela” buscam impactar e despertar o interesse do transeunte, seja pelo colorido, seja pelo conteúdo imagético. Segundo Schmitt, as fotos são desafiadoras. - Para além de algumas obras mais figurativas, há outras que provocam o olhar. São vestígios, ambiguidades, pedaços, que desafiam e convidam o público a dialogar com a obra, ressalta.
“O mundo da Nega Angela é um mundo muito rico, diverso, que contempla essa curiosidadeque a Angela tem pela fotografia, pela vida, pelas pessoas, pelo mundo. Assim, queremos devolver para a rua, em um formato ampliado, essas pequenas coisas que, muitas vezes passam despercebidas e que, sem a atenção de um olhar curioso, não viram fotografia”, observa.
Fernando B Schmitt conheceu Angela em um curso que ele ministrava, e, depois, ela passou a fazer parte de um grupo de estudos orientado por ele. Com a chegada da pandemia, os encontros se tornaram online até a dissolução do grupo, quando ela passou a receber uma orientação particular. Desde então, eles vêm trabalhando, juntos. - Neste ano, constatamos que o trabalho deveria ir para fora, saindo deste espaço de aprendizado, visto que ela já estava participando do Fotoclube Porto-Alegrense e de concursos de fotografia, conta. - Diante deste desejo interno de mostrar seu trabalho, procuramos um modo de expor que fosse condizente e representativo do seu trabalho, detalha.
Angela está em busca de histórias. Quer andar pelas ruas, fotografar o que vê e lhe interessa. - Ela diz que está sempre na contramão, seu interesse está naquilo que não é perceptível, que não é revelado a um primeiro olhar. Sua percepção de mundo se desdobra nas camadas que ela desvela, transparecendo seu universo particular, analisa Schmitt. - É um universo multifacetado, repleto de interesses e de possibilidades, acrescenta. Neste sentido, a escolha do lugar foi fundamental para que a mensagem da artista chegasse a um público que normalmente não é frequentador de galerias, museus ou outro espaço expositivo. A céu aberto, a Galeria Escadaria cumpre esta função, abrigando imagens que atuam como elementos provocativos ao passante da rua.
Fernando B Schmitt confessa que levou muito tempo, como fotógrafo e professor de fotografia, para entender que o modo de fotografar de Angela estava fora do parâmetro comum a todos os fotógrafos, ou seja, determinar uma foto, uma linha de pesquisa, um tema ou técnica que lhe seja pertinente. - Em lugar disso, Ângela se permitiu todo o tipo de experiência: fez cursos os mais variados, ingressou em uma graduação em Fotografia. Percebi que não era o domínio técnico da máquina a coisa mais importante no trabalho da Angela, mas captar aquilo que lhe é importante. Assim, ela tem interesse e curiosidade por tudo que diz respeito à fotografia e por tudo que é meio fotografável, complementa.