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| _André Germano Leite e Vinicius Victorazzi Lain - crédito Fabio Grison |
Estão ali a primeira traqueostomia, as incertezas de lidar com uma doença nova, sobre a qual pouco se sabia, o aprendizado constante, as mudanças, as escolhas difíceis, a corrida contra o tempo, as perdas. Está ali também o medo, inclusive o de se contaminar, de levar a doença para casa e de morrer – afinal, os médicos e demais profissionais da área que dão seus depoimentos são, antes de tudo, pessoas como outras quaisquer, e a experiência desse período os marcou e os transformou profundamente.
– Lidávamos com uma doença desconhecida, com alto índice de fatalidade. Uma doença mortal, um inimigo invisível que estava levando pessoas queridas. Foi preciso muita resiliência – recorda o doutor André, idealizador da obra.
Além de compartilharem a dor de pacientes e familiares, de presenciarem as despedidas de pais e filhos à distância, por telefone, os autores viveram momentos de perda própria, como a morte de colegas infectados (entre os quais o médico Ricardo Casara, à época conselheiro de administração da Unimed Nordeste, a quem o livro é dedicado). A narrativa de episódios como esse traduz a característica mais marcante da obra: seu lado humano. Como explicam seus autores, esse é um documento sem termos técnicos, pensado para o público leigo e mais voltado à questão dos sentimentos e emoções vivenciados na pandemia, como amor, compaixão e solidariedade.
A produção de Por Trás da Máscara levou mais de um ano, da ideia inicial do doutor André de documentar o período à coleta de depoimentos de colegas médicos, enfermeiros, técnicos, administradores, higienizadores e outros. Para ajudar na empreitada, ele convidou o doutor Vinícius Lain, que foi diretor técnico do Hospital da Unimed no período mais crítico da Covid-19 e tinha a responsabilidade de não deixar faltar nada no atendimento aos pacientes.
– A transformação foi além da área física do hospital – recorda Lain, que também fala em medo. – Quando chegamos no número máximo de leitos e mais pacientes ainda chegavam, precisamos transformar outras áreas do hospital em UTI para a Covid. Havia macas e aparelhos de oxigênio por toda parte, estivemos muito próximos de exceder o limite, mas conseguimos atender a todos.
A cada manhã, conta, havia reuniões para definir os passos seguintes, o que precisava ser feito para garantir o melhor atendimento:
– A gestão precisou ser bastante ágil. O legal foi o entrosamento, ver todos trabalhando juntos para que não faltasse nada. Não podíamos dizer “não temos leito”, tínhamos de dar um jeito de conseguir mais.
O médico lembra ainda a capacitação, ainda nos primeiros meses da pandemia, oferecida a outros hospitais da região, em uma estratégia de descentralizar o atendimento. A parte de gestão, no entanto, não foi a que mais lhe marcou. Ele recorda que todos faziam o possível para trazer algum conforto aos pacientes e familiares, como a organização de visitas virtuais, uma vez que a visita presencial a pacientes covid não era possível. Foram momentos tristes e desafiadores, mas houve também momentos felizes, como a alta de pacientes e as redes de oração.
Em paralelo a tudo isso, era preciso dar estabilidade emocional à equipe. Mesmo com o medo de que funcionários se infectassem, todos permaneceram alinhados em busca dos melhores resultados.
– Estávamos frente a uma doença que se teve de aprender a tratar tratando, revisando o processo a cada dia – afirma Lain.
Ilustrado com fotografias de Javier Masiá Herrera, o Paquito (que passou um dia nas UTIs covid), e de Fran Corrales, o livro se constitui como o retrato de uma doença que abalou não apenas Caxias do Sul, mas toda a humanidade.
– Nossa intenção foi registrar esse período tão marcante. Trata-se de um documento histórico, queremos deixar isso marcado inclusive como aprendizado para possíveis futuras pandemias – resume o dr. André.
A obra, em capa dura, papel couchê e acabamento em alto padrão, será lançada no dia 15 de dezembro, das 18h às 22h30min, no Villa Basilico (Rua Olavo Bilac, 503, Pátio da Estação), em Caxias do Sul. O livro (editora Desdobra, 632 páginas) estará à venda por R$ 100.
Valores arrecadados irão para obra social
Devoto da Imaculada Conceição, o médico André Leite ouviu falar do Recanto da Compaixão Frei Salvador, abrigo para idosos em situação de vulnerabilidade que será inaugurado em 2023, e decidiu direcionar para lá toda a renda a ser arrecadada com a venda do livro Por Trás da Máscara: Visões de quem enfrentou a pandemia da Covid-19 em Caxias do Sul.
O projeto do abrigo é ligado à Associação Mão Amiga e, segundo o Frei capuchinho Jaime Bettega, que capitaneia a iniciativa, a ajuda vem em boa hora.
– O município de Caxias do Sul carece de vagas para idosos em situação de vulnerabilidade social. São muitas as pessoas idosas sozinhas ou famílias que não têm condições de cuidar de seus idosos. O Recanto surge como uma possibilidade, ou melhor, como uma esperança para tantos que não tem onde ficar no entardecer da vida – pontua o religioso.
O Recanto da Compaixão Frei Salvador – um dos mais de 20 projetos sociais do Mão Amiga – terá a capacidade para 125 idosos.
– A nossa atenção é sempre ver onde estão as lacunas, as necessidades que fazem o nosso povo, especialmente o mais pobre, sofrer – resume o Frei Jaime sobre o abrigo.
Ele traça um paralelo entre o livro e Recanto: enquanto Por Trás da Máscara trará à comunidade um registro tão necessário do atual momento da história, cuidar dos idosos é também cuidar da história da vida.
A publicação do livro foi viabilizada graças ao apoio de empresas patrocinadoras, que dessa forma também estão contribuindo com o Recanto.
Serviço
O que: Lançamento do Livro Por Trás da Máscara: Visões de quem enfrentou a pandemia da Covid-19 em Caxias do Sul
Quem: De autoria dos médicos André Germano Leite e Vinícius Victorazzi Lain
Quando: quinta-feira, 15 de dezembro, das 18h às 22h30
Onde: Villa Basilico (Rua Olavo Bilac, 503, Pátio da Estação), em Caxias do Sul.
Valor do livro: R$ 100 (Editora Desdobra, 632 páginas)
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