Esse é o quarto post, de uma série, sobre adoção animal. O
que muda na rotina, em nós e na forma de ver o mundo.
TRÊS DA MANHÃ. Ouço um barulho na sala. Levanto para ver o
que é. Kiko, me olhando, fazia um cocozão próximo à porta de entrada. Ok. Não
fiquei bravo. Um dia isso iria acontecer, né? Limpo o local e digo para ele que está tudo bem. Pelas seis da manhã, percebo nele uma
inquietação. E, novamente, outro cocozão no mesmo lugar. Sonolento, limpo novamente, sem xingá-lo.
Antes de adotá-lo as minhas dúvidas eram várias. Será que
ele vai fazer xixi por toda a casa? Qual o cantinho que ele vai escolher para o
cocô? Vai latir muito? Meus móveis correm risco de serem mordidos, roídos e
destroçados? Meus Deus! Pânico total para um virginiano que adora tudo no seu
devido lugar.
A “ficha” dele não é das mais limpas. Nela, há “pipis”
feitos nos ambientes internos da residência da minha vó, tapetes estraçalhados
e até um sofá rasgado. Como pode um cusquinho tão meigo e doce ser, ao mesmo
tempo, tão travesso? Seria ansiedade? Raça? Temperamento? Criação não era, isso
eu sabia. Enfim! Mesmo assim, eu queria correr o risco! Algo me dizia que seria
importante para mim. Neste caso, o maior desafiado seria eu, não ele.
Não me tirem para neurótico. Sei que bens materiais são
apenas bens materiais. Mas tudo comprado para compor minha decoração tem uma
história. E acho importante preservamos as nossas memórias. Desapeguei,
tá? Como o budismo defende, tudo é impermanente: começa e tem fim. Porque seria
diferente com uma cadeira, por exemplo?
Agora! Estão sentados? Desde a chegada do Kiko em casa a única
coisa que aconteceu, até agora, foi o incrível número de pelos em lugares por
onde ele passa. Viva o inventor do aspirador de pó, aliás. Tirando isso, ele
faz todas as necessidades na rua e os móveis seguem como eram antes: intactos.
Acho que isso é um bom sinal, não? Acredito – e rezo – que ele siga neste bom
comportamento. E se fizer alguma sapequice, tudo bem, isso poderia ocorrer.
Ah! E os dois totozões no meio da sala? Bom! Suspeito de um
dor de barriga. Depois daquela madrugada, nunca mais aconteceu nada parecido.
O Kiko me ensina muitas lições. Uma delas, por exemplo, é
que um lar sem bagunça não é um lar. Que, sim, não faz mal nenhum ter uma
almofada jogada no chão e uma meia dúzia de pelos espalhados no chão ao chegar
em casa depois de um dia de trabalho. Que é bom voltar e sentir uma vida feliz
te esperando e pronta para te dar amor e carinho, esses, de forma
incondicional. Bom! Eu acho que a lista de benefícios vai aumentar. Daí, vamos falando nisso ao longo do tempo.
Na quarta-feira que vem, dia 20 de dezembro, a primeira
festinha no parque.
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