terça-feira, 29 de agosto de 2017

depositórios de mimimi

por adriano cescani

Ouvir é uma grande caridade. É tão reconfortante emprestar o ombro para quem está precisando. Neste simples gesto, um coração angustiado se alivia e outro se enche de gratidão por ter feito algo legal para alguém.

Ser um bom ouvinte não é para qualquer um. Requer doses de tempo, afeto, paciência e compaixão. Por isso a caridade. Doamos tudo isso no momento em que estamos “disponíveis”.

O problema é quando o problema alheio passa a ser nosso. Os amigos ou familiares enxergam no “ouvinte” uma forma repetitiva de expor o que não está bom nas suas vidas. Sem se dar conta, o ouvido, assim como uma pia de banheiro que vai entupindo com pelos e sujeiras, fica obstruído.

nós somos a nossa melhor companhia
Eu sei que sou um pouco híbrido neste tema. Sou um reclamão. Mas reclamo porque sou um bom ouvinte. Acho que é uma forma de devolver ao mundo o que ele me dá: pessoas queridas mas extremamente falantes de suas frustrações, amarguras, insucessos, decepções ou falta de força para virar o jogo. Não estou aqui julgando ou dedurando, apenas constatando. Num Brasil atual, realmente, é muito difícil estar 100% pleno.

Percebi, nos últimos dias, que passei a ser um depositório de “mimimi”. De todos os lados recebo chororôs. Percebi, inclusive, que ninguém mais se interessava por mim, pelo meu trabalho, pelas minhas aflições - sim, todos as temos -. Me senti um náufrago nos últimos dias. Olha. Fui tão bombardeado por “problemas” que minha paciência, regada diariamente com meditação, bons pensamentos e orações, se esgotou, mesmo que temporariamente.

Sinal vermelho acionado. Precisei e preciso me restabelecer. Vou limpar minha mente e coração sozinho. Todos temos essa capacidade, desde que saibamos olhar pra dentro de nós com carinho. Seguirei na meditação, nos bons pensamentos, nas minhas orações, nos meus programas de lazer e diversão, minhas coisas.

Sim, para mim, estar sozinho é uma maneira de recarregar as energias. Daí, só depois desse breve período sabático, conseguirei voltar a consolar mais do que ser consolado. Que é o que eu busco pra mim.

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