Vivemos numa sociedade “culposa”, onde recebemos a culpa sem a intenção de provocá-la. Aliás, já no ventre da nossa mãe recebemos a primeira culpa. Qual? A culpa de engordá-la ou por fazê-la ter desejos estranhos, como comer sorvete com chiclete. E quando nascemos então? Somos culpados por um monte de coisas: dor, depressão pós-parto, falta ou excesso de leite no peito, blá blá! Vai ver que é por isso que já saímos da barriga aos prantos, chorando, como uma forma de pedir desculpas pelos problemas causados e pelos que causaríamos ao longo da vida.
E são muitos problemas, não é mesmo? Ainda enquanto bebê, recebemos a culpa pelas madrugadas mal dormidas dos nossos pais. Na adolescência, a culpa pelos aborrecimentos provocados pelas “rateadas” que fizemos na escola. E na fase adulta, já morando sozinho, levamos bronca porque não avisamos que chegamos bem de uma viagem para a praia. Minha mãe diz que filhos são uma eterna preocupação. Vai ver que por isso, na lista de palavras prioritárias que aprendemos ainda na infância, lá está ela, a DESCULPA. Sim, porque tudo é motivo para suplicar perdão: a bola que foi chutada sem querer na parede do vizinho, a cara emburrada de sono que fizemos para àquela tia chata, o vaso centenário quebrado numa pirueta dada na sala de estar. Os erros, mesmo que provocados sem querer, nos tornam culpados de alguma coisa. É sempre assim!
Ao longo da nossa vida vamos acumulando culpas. A culpa por ter repetido a série no colégio (nunca foi o meu caso, mas de muita gente por aí), a culpa por ter iniciado uma faculdade e ter trocado de curso no meio do caminho, a culpa por não ter ido fazer um intercâmbio quando jovem, a culpa por ter te afastado do teu melhor amigo de infância por uma briga boba, a culpa por uma gravidez indesejada na juventude, a culpa por não ter filho, a culpa por ser solteiro, a culpa por não ter lutado pelo amor da tua vida, a culpa por terminar um casamento de 15 anos! Ah! Se elas, as culpas, fossem convertidas em milhas daríamos, pelo menos, duas voltas ao mundo.
Já pelos 30 e poucos anos, então, já parecendo um Papai Noel, carregamos um saco cheio…não de brinquedos, mas deste bendito sentimento que deixa a nossa consciência pesada, bem pesada. Errei muito na por aí – e acredito que vou errar muito ainda. Carrego comigo as conseqüências das minhas inconseqüências até hoje. Pior que muitas delas levarei pelo resto da vida.
A culpa pelo caminho errado, pela decisão equivocada, pelas palavras ditas num impulso de raiva é inevitável. Vai direto para o nosso saco, que arrastamos pelas costas como o bom velinho. Durante uma conversa com uma sábia amiga esses dias, ouvi uma frase dela que me fez refletir.
- Adriano, as culpas não te pertencem. Te absolve , afinal, elas não vão te trazer felicidade.
Para completar, ela encerra:
- As coisas acontecem porque precisam acontecer.
Àquele papo, confesso, me tornou o Papai Noel no dia 26 de dezembro, com o saco vazio, depois de entregar todos os presentes para as crianças. Joguei, naquele momento para o universo, todas as culpas que recebi de mim e dos outros. Entendi que os erros que cometi foram por ingenuidade, por acreditar que era o certo a fazer, por fraqueza, por despreparo, enfim, por amor. Sei que tive minha parcela de culpa em muitas coisas por aí. Mas tenho a certeza que fiz o meu melhor naquela situação onde levei a pior. Acredito que era para ser assim. Simples assim. Então, eu me absolvo!
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