O relógio marcava 19h10min. Encerrava mais um dia de trabalho. Até aí tudo lindo, se não fosse um compromisso que eu tinha do outro lado da cidade, em 20 minutos. O horário de pico no trânsito me “atucanou”. Foi um Deus nos acuda! Desligo o computador, guardo planejamentos e começo a procurar a chave do carro dentro do bornal, o nome chamado para a bolsa masculina.
Inicia a minha peregrinação! Sim, quem disse que eu me lembrava em quais bolsinhos, bolsões e compartimento havia colocado a tal chave? Cavoco o bolso externo da frente e encontro a chave de casa, a receita médica, a pastilha pra garganta, as moedas, o pen drive, o cartão do gerente do banco…e nada da chave do carro. Dou tchau pra quem fica no escritório e saio porta a fora misturando, com a mão esquerda, o interior do bornal a procura da “querida”! Toco na carteira, no celular, num envelope vazio, no carregador de celular…e “neca-que-tibiriba” da chave.
Chamo o elevador e continuo buscando a “bendita”. Reviro uma bolsinha no compartimento interno e acho cartões de visitas, três canetas, um saco de bolachinha, extrato bancário, lenço, um chaveiro…e nenhum sinal “dela”. O elevador chega, entro e aperto no botão que leva até a garagem. Já com uma cara de louco e com o corpo retorcido por causa do peso do bornal, continuo a busca no bolso externo de trás dele, como se minha mão fosse um liquidificador, vasculho o espaço rapidamente – muito, mas muito irritado. Descubro o óculos de sol, um bloco de notas, um cd, comprovantes de pagamentos, conta de luz e, para variar, não achei a “p#@a” da chave do carro. Olho para o senhor que estava no elevador e digo:
- Quando perdemos a chave do carro é um problema, né?
- É um saco quando isso acontece, responde ele!
Já na garagem, caminho com a mão, novamente, no miolo da pasta – que é quase um buraco negro. Respiro fundo, conto até três e, calmamente, faço uma última vasculhada no bornal e nos seus intermináveis esconderijos. Demorei, mas a encontrei, extremamente atrasado.
Me lembrei do filme “O Amor Acontece”, onde o personagem principal, um palestrante de auto-ajuda, falava sobre a quantidade de bobagens e coisas supérfulas que carregamos ao longo da vida, sem nenhuma necessidade. Citou, como exemplo, o peso de uma bolsa! Claro que ele iria entrar no mérito de arrastarmos culpas, sofrimentos e dores. Vou ficar mesmo com a questão prática e palpável da história.
Aquela cena me marcou! Carregamos muito mais do que precisamos no nosso dia-dia. O meu bornal mais parecia uma mala de primeiro, segundo e terceiro socorros do que uma pasta de trabalho. Nem nos damos conta que essas tralhas nos tornam mais pesados diante da vida. Sim, os especialistas em Feng Shui estão aí para concordem comigo. Além de nos deixarem mais lentos, mais enrolados, os “pesos” prejudicam as costas e ombros, nos atrasam e nos irritam.
Vejam o meu caso. Quanto problemas criei para mim mesmo quando carreguei àquilo que não me era mais necessário. Se eu levasse comigo apenas o útil, acharia a chave imediatamente, não me atrasaria tanto, pegaria o elevador como gente civilizada e ficaria bem tranquilo, longe do estresse.
A partir do episódio narrado decidi me livrar do peso nosso de cada dia. Levo comigo apenas o que vou utilizar durante o período em que estiver fora de casa. Andar com pouco peso é começar a praticar o desapego, de uma certa maneira. Hoje, deixo de levar um Cd, um bloco de notas, um extrato bancário, uma pastilha pra garganta, blá blá blá. Amanhã, deixarei de carregar os sentimentos que mais nos pesam na vida. Mas daí, é um outro assunto, pra outro momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário