quarta-feira, 3 de setembro de 2014

beijo gay, nudez e mimimi...

Não tenho dúvidas de que o Brasil é o país do mimimi. No início do ano, jornalistas, formadores de opinião e uma parcela mais retrógrada da sociedade recriminaram o tão esperado primeiro beijo gay da televisão nacional. Durante semanas não se falava em outro assunto. Alguns setores da mídia criticaram o tão bonito gesto de amor, mesmo que ficcional, entre dois homens do mesmo sexo na novela “Amor à Vida”, da Rede Globo. Alguns até apostaram qual seria a próxima “pouca-vergonha” que “eles” teriam que engolir através dos folhetins globais.
Dia 23 de fevereiro, um domingo, artistas voltaram a incomodar quem deveria estar ao lado deles, lutando por um mundo livre e sem preconceitos. No desfile do Bloco da Laje pela Orla do Guaíba, em um dos eventos de pré-carnaval de Porto Alegre, dois atores tiraram a roupa e se beijaram em público. Pronto, mais mimimi na capital! Até um apresentador desses programas sensacionalistas da TV local caiu de pau no inusitado e divertido gesto.
Eu estava lá no exato momento da intervenção artística. Mães e pais com filhos pequenos estavam lá. Senhores e senhoras estavam lá. Homens e mulheres, de todas as orientações sexuais, raças e crenças estavam lá. O clima era de alegria e diversão, simples assim. O ato estava dentro de um contexto da música que dizia “vamos tirar Jesus da cruz”. Os dois integrantes do grupo foram aplaudidos e ovacionados. Mas a euforia geral não foi pela banalização da nudez ou pelo beijaço deles, mas, sim, pelo fim de toda e qualquer discriminação. E até onde me foi informado os rapazes são heterossexuais, o que prova, mais uma vez, que tudo não passou de um “abrir” de olhos para os tempos atuais.

laje
Em carta publicada na internet, o bloco carnavalesco escreveu:
- “Tiramos a roupa porque o corpo é lindo. O corpo é uma festa…Não há do que se envergonhar. Peitos, bundas, pênis, todos temos, todos usamos, todos são belos a sua maneira…”!
Em um mundo que ainda há países onde homossexuais são listados e condenados à prisão perpétua e à morte, onde mulheres são proibidas de mostrarem o corpo, onde a cor da pele ainda é motivo de ódio, onde a informação é negada, onde a liberdade de expressão é coibida com violência, o Brasil deveria se orgulhar de ser um território livre de qualquer tipo de retaliação legal. Sou jornalista e não entendo o porquê que muitos colegas ficam visivelmente incomodados com a feliz liberdade alheia.
Essa turma, que cobra justiça pela a morte de um repórter/fotógrafo/cinegrafista durante uma cobertura de guerra ou conflito, que esbraveja quando o nosso trabalho é censurado por um governo, que enche a boca para falar da tal liberdade de imprensa, deveria aprovar e elogiar manifestações legítimas do povo. Sou de uma opinião: caso não queira aplaudir, tudo bem. Apenas respeite. O respeito já é um começo para a construção de um futuro melhor.
Em 2014 não há mais espaço para dois pesos e duas medidas. É preciso entender que a tua liberdade não é mais importante que a minha ou de qualquer um que seja. Todos temos os mesmos direitos e deveres. Todos somos iguais.  Está na hora do mundo deixar de mimimi, de celebrar a felicidade de sermos livres e de tirar o Jesus da cruz.
mimimi
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